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A qualificação na linha da frente

​​​​​​​A pandemia por Covid-19 apanhou o mundo de surpresa. As empresas sentiram, muito rapidamente, a necessidade de uma maior digitalização, e como consequência, estão a surgir novas funções em TI. A formação tem de acompanhar esta nova realidade.

01 November, 2021

A pandemia por Covid-19 apanhou o mundo de surpresa. De um momento para o outro, passámos a viver de forma diferente, quer a nível pessoal, como profissional. No contexto empresarial, estas transformações obrigaram as empresas a, rapidamente, perceber a necessidade de uma maior digitalização, com vista à agilização de processos e a continuidade dos negócios.

Como consequência desta necessidade, agora, mais do que nunca, as novas profissões especializadas em tecnologias estão a crescer a um ritmo desafiante e, é nesse sentido, que o mercado da formação deve acompanhar as tendências desta nova realidade, possibilitando uma maior capacidade de otimização de tarefas, e até mesmo de adaptação a novas funções.

Por sua vez, o desenvolvimento tecnológico e a crescente digitalização dos negócios têm vindo a acentuar o fosso entre as necessidades das empresas e as competências digitais dos seus colaboradores, tornando clara a importância da requalificação. Identificar, caso a caso, as necessidades de formação é um processo essencial para o sucesso da capacitação das equipas nas organizações. Criar uma cultura de aprendizagem chega a ser uma decisão instrumental, sendo uma excelente decisão de negócio, sobretudo em momentos financeiramente desafiantes.

Para além das vantagens que esta aposta na formação traz às empresas, existem também diversas vantagens no que diz respeito aos colaboradores tais como: aumento da confiança na utilização das tecnologias e na implementação de mudanças, maior contribuição com ideias para o desenho de processos, maior facilidade e criatividade na resolução de problemas, e maior satisfação com o trabalho e com a entidade patronal. Com a formação conseguimos trabalhadores mais especializados, versáteis e satisfeitos.

 

A Formação em TI

Tal como mencionado anteriormente, a revolução digital impõe um caminho extremamente exigente. As novas tecnologias vão exigir que mais profissionais dominem as novas ferramentas, pelo que as empresas precisam de antecipar estas mudanças para se prepararem para o futuro.

Nesse mesmo contexto, entre as principais prioridades reportadas pelas empresas portuguesas para o ano de 2021 destacam-se as áreas tecnológicas de Programação, Big Data, Redes e Sistemas, as relacionadas com Cloud Computing, e sobretudo o desenvolvimento de competências em Cibersegurança.

Apesar de as tecnologias de informação serem o foco da grande maioria das empresas neste momento, reforçar continuamente o investimento, em cada vez mais e melhor tecnologia, de pouco serve às organizações, se estas não souberem tirar proveito disso. É por isso necessário aliar o compromisso contínuo de inovação tecnológica com o compromisso também contínuo de desenvolvimento das competências das equipas de TI, de forma a garantir o uso eficaz dessas tecnologias. 

Principalmente nessa área, as certificações técnicas têm uma importância fulcral. Para a sua obtenção, o candidato tem de demonstrar, não só o seu entendimento dos conceitos técnicos teóricos, mas também, na maioria dos casos, as suas competências na utilização prática desses conhecimentos em ambiente real ou simulado. 

Estas certificações são instrumentais na garantia das qualificações de um profissional na medida em que, por exemplo, a grande maioria dos responsáveis de recrutamento, admite que as certificações são um dos seus critérios de escolha de um candidato, pois fornecem uma prova imparcial das competências técnicas do candidato, ao mesmo tempo que demonstram o comprometimento desse candidato com o seu desenvolvimento profissional.

Mas o valor da certificação ultrapassa os benefícios individuais ou de facilitação de recrutamento, estende-se às organizações em que os profissionais certificados trabalham. Especificamente, estes profissionais respondem melhor às necessidades de qualificações da empresa, são mais produtivos, mais eficazes a responder aos requisitos dos clientes, levam menos tempo a solucionar problemas e concluem projetos mais rapidamente. A par de acrescentar valor e credibilidade ao colaborador, quando aliada à formação, a certificação potencia os seus resultados, ajudando a eliminar lacunas na formação, a reter o conhecimento, e melhorando a eficácia global da formação.

Por consequência, o desenvolvimento constante de competências é a melhor forma de assegurar uma melhoria persistente da performance das operações de TI, ajudando os seus profissionais a responder a alguns dos maiores desafios das suas organizações: eficiência, mitigação de riscos, agilidade e produtividade.


Análise e Implementação dos planos de formação

Analisar o estado atual da organização é essencial para implementar um plano de formação e detetar as necessidades da empresa e dos colaboradores. Quando as empresas desejam certas competências que os seus colaboradores não possuem, cabe aos Recursos Humanos, ou responsáveis de Learning and Development (L&D), realizar uma análise de competências. Esta análise deve ter em conta, não só as lacunas de competências, mas também quais as metas da empresa, qual o futuro das tendências do trabalho e quais as competências que já existem, atualmente, dentro da empresa. A partir da identificação do gap de competências, é possível definir estratégias e estruturar feedbacks contínuos, com vista ao aperfeiçoamento das capacidades da equipa.

Paralelamente, a partir do estudo “Como será o desenvolvimento das competências profissionais em 2021?” levado a cabo pela Rumos, conseguimos concluir que: o Plano de Formação das empresas é elaborado maioritariamente (57%) com base na realização prévia de um levantamento de necessidades de formação. Mas a proposta do desenvolvimento de competências dos colaboradores é também, em grande parte, feita por meio da sugestão das chefias (48%) e dos próprios profissionais (45%).

Contar com uma equipa capacitada e funcional é essencial para responder aos desafios e ultrapassar com sucesso a revolução digital. 

 

O investimento em formação

Hoje em dia, esta consciencialização para a importância da qualificação dos colaboradores possibilitou uma maior preocupação do lado das organizações em alinhar os planos de formação com a sua estratégia e decisões de investimento.

Apesar dos investimentos em formação terem caído em 2020, devido aos primeiros impactos económicos da pandemia e da incerteza face ao futuro em 2021, notou-se alguma recuperação e vontade de investimento por parte das empresas. Em Portugal, o inquérito realizado pela Rumos mostrou que 63% dos inquiridos pretende manter ou aumentar o seu investimento em formação em 2021, enquanto 20% confirmam uma redução no investimento face ao ano anterior. Contudo, a maioria das empresas empregadoras esperam obter o retorno do investimento na qualificação dos seus colaboradores no espaço de um ano e esta meta é muitas vezes atingida.


Desafios e Futuro da Formação

Dos principais objetivos da formação destacam-se dois grandes eixos, o primeiro ligado diretamente ao negócio (reduzir o skills gap e impulsionar o crescimento da organização) e o segundo ao bem-estar dos trabalhadores (melhorar o employee engagement e a satisfação com o trabalho). 

Do lado do negócio, a formação pode servir outros propósitos que não de apenas preencher lacunas de qualificação, como ajudar ao alcance das metas de negócio, a gerar proveitos e a reduzir custos, apesar de nem sempre lhe ser dado crédito nesses resultados. Ainda assim, e mesmo num período de crise económica como o que vivemos, grande parte das organizações reconhece o ganho em investir no seu capital humano. 

Do lado dos colaboradores, a perceção do impacto da formação é igualmente positiva: destacam melhorias na qualidade do seu trabalho, mais rapidez na realização das suas tarefas, sentem-se mais motivados e tornam-se mais adaptáveis. Ainda, estes investimentos em formação e desenvolvimento aumentam a retenção de talentos e o aumento da felicidade no trabalho e nas tarefas que executam.

Porém, se a importância e impacto da formação profissional é tão globalmente aceite, tanto por organizações como pelos profissionais individualmente, porque é ainda tão difícil delinear e implementar planos de formação eficazes? O principal obstáculo é a falta de tempo: a carga de trabalho diário não permite ter disponibilidade para participar tão regularmente em ações de formação. Mesmo com o impulso dado, em 2020, a novos formatos de formação (remota, assíncrona ou síncrona) com poupanças óbvias de tempo de deslocações, a falta de tempo continua a ser a razão para não se realizar formação. Muito relevantes são também as questões de orçamento e a dificuldade dos responsáveis pela formação em demonstrar os benefícios e o ROI da formação aos seus superiores.
Existe, contudo, uma certeza: o retorno do investimento em formação não é nem abstrato nem teórico: A formação tem um impacto real e generalizado na produtividade das várias equipas e, consequentemente, na capacidade das organizações em responderem, atempadamente, e de forma adequada, aos requisitos do negócio e do mercado.

Em todo este contexto, o mercado da formação deve continuar a acompanhar as tendências deste “novo normal”, de digitalização, flexibilidade de horários, descentralização geográfica e consequente democratização de acesso à aprendizagem. 


Mais de um ano vivido, após o início da pandemia, conseguimos perceber que não voltaremos atrás: Muitas destas mudanças vieram para ficar e tornou-se notória a importância da capacitação de colaboradores, para garantir a resiliência e prosperidade de indivíduos e organizações. É, e será cada vez mais, essencial que o investimento no capital humano esteja na linha da frente da visão estratégica das empresas.

 

Artigo publicado em Building The Future 2022, novembro 2021